sábado, outubro 17

Propaganda primária

Há menos especialistas! Erros e jogos de palavras... 
É um exercício interessante ler o Inventário dos Profissionais e o Balanço Social Global do Ministério da Saúde (MS) link e do SNS de 2014, link divulgados em simultâneo. Comprova como o MS maltrata as estatísticas! 
Logo no início do comunicado público do MS é afirmado que para o grupo dos médicos existiu, entre 2013 e 2014, um acréscimo de 10,3%, o que corresponderia a mais 929 médicos, num total de 29.642 profissionais no ativo em dezembro de 2014, e que o Balanço Social de 2014 confirmava os dados, verificando-se o aumento de 1% na carreira médica. 
É engraçado como, demonstrando os níveis intelectuais não muito primorosos que grassam pelo MS, quem redigiu o comunicado pareceu achar que 1% confirmava 10%, não reparou que os 10% afinal são apenas 3% e nem sequer tentou explicar as labirínticas diferenças de percentagens (reproduzidas sem crítica pela Comunicação Social...). 
Estranhamente, o número de 29.642 médicos no ativo, referido no comunicado oficial, corresponde, no Inventário, não ao número de médicos mas sim ao número de empregos, pois muitos médicos trabalharão em mais do que um local do SNS, como, por exemplo, nos hospitais e no INEM; no quadro 4 do Inventário, referente ao número real de médicos (pessoas, não empregos) no SNS, surge o número de somente 26.960, dos quais 8.515 são internos da especialidade e 18.445 são especialistas. Uma diferença de menos 3.000... No comunicado público, o MS coloca não o número real de médicos no SNS, mas sim o número de empregos médicos (sem explicar a que correspondem), para empolar a mensagem transmitida! Primário. Mas engana toda a gente. Afinal, não existe aumento de 10,3%... 
No mesmo comunicado, misturando as palavras especialista e área de especialidade, o MS tenta passar a ideia que o número de especialistas aumentou nas especialidades mais carenciadas e que o Ministério fez um grande esforço para esse aumento. Mas será mesmo verdade? Não! 
Se analisarmos o Inventário referente ao ano de 2011, no quadro 2 está plasmado que o número de médicos (pessoas) era de 25.451, dos quais 6.728 internos e 18.723 especialistas. Conclusão: de 2011 para 2014, o número de médicos especialistas no SNS, que dependiam de contratação do MS, diminuiu em 278 (menos 1,5%) e o número de internos, que o MS era obrigado a contratar por causa da formação, aumentou 21%. 
O número de horas médicas prestadas no SNS terá aumentado, segundo a ACSS, mas é devido às horas de internos, não de especialistas, cujas horas diminuíram, até porque muitos especialistas têm redução de horário. A falta de contratação de especialistas, que saem para o setor privado, emigração e reformas, é uma das razões para os problemas de resposta do SNS. 
Muito mais haveria a dizer sobre as estatísticas e os relatórios do MS, mas falta espaço. A mostra é suficiente para provar que não são confiáveis. 
JOSÉ MANUEL SILVA, DN 16.10.2015

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