ADSE, a polémica prossegue
... Uma política de saúde que tem o SNS como a sua principal infra-estrutura representa uma contribuição muito importante para diminuir as desigualdades entre os portugueses. Por essa razão, desde que em 1979 foi criado aquele serviço público que a manutenção da ADSE na esfera do Estado devia ter sido equacionada, uma vez que não lhe deve caber o papel de promotor de desigualdades ou da gestão de fundos privados.
Além disso, é altura de repor o que a Constituição dispõe e obriga como uma das tarefas fundamentais do Estado, “Promover (…) a igualdade real entre os portugueses (…) (alínea d), artigo 9º).” Já são suficientes e excessivas as desigualdades que são geradas pela lógica das relações que o mercado estabelece entre os trabalhadores.
Ao Estado cabe-lhe, neste caso, manter e melhorar um serviço público de cobertura universal e que responda com equidade às necessidades de cuidados de saúde. Qualquer solução que configurasse uma espécie de terceira via, com o Estado com um pé fora e outro dentro, representaria um inequívoco retrocesso perante a oportunidade que estes trabalhadores têm de decidirem autonomamente sobre os destinos a dar a este serviço.
No campo associativo a constituição de modelos organizativos para prosseguir os fins que os seus fundadores decidirem é inquestionável, e o caso dos trabalhadores em funções públicas não é excepção.
O que representaria uma grave entorse era manter-se na esfera do Estado uma excepção, qualquer que fosse a modalidade de relação adoptada. Estariam criadas e legitimadas as condições para a exigência do alargamento do modelo ADSE a toda a população, como já o fazem sentir alguns sectores de opinião, nomeadamente a líder do CDS.
Estes considerandos servem para equacionar a solução que pode representar a evolução para uma organização privada mais avançada, inovadora e ajustada à obtenção de cuidados de saúde mais próximos do que clinicamente é aconselhável.
Essa solução é representada pela criação de uma mutualidade dos trabalhadores em funções públicas, exclusivamente financiada, organizada e gerida pelos próprios, sem qualquer vínculo ao aparelho do Estado.
Enquanto modelo de economia social, esta forma de auto-financiamento, auto-organização, auto-regulação, apoio mútuo e solidariedade dos trabalhadores reúne desde logo massa crítica, competências e capacidades instaladas para tomar as decisões e fazer as escolhas que melhor cubram as necessidades e a vontade dos seus beneficiários.
Mas também, na fase de transição, a garantia dos contratos celebrados e as prestações por eles cobertas, já que o âmbito, as funções e os limites da sua cobertura deverão ser decididos futuramente pelos mutuários sendo, para o efeito, de particular importância, enquanto carta constitucional, o que os seus estatutos vierem a consagrar.
Não se trata tanto do reconhecimento da bondade da livre escolha, cuja aplicação ao campo da saúde está particularmente distorcida em razão da forte assimetria da informação e conhecimento, mas da constatação da importância de um segmento crítico do processo de prestação de cuidados, o acesso em tempo clinicamente útil e próximo das expectativas dos utilizadores.
Uma organização com estas características, exclusivamente tutelada pelos seus trabalhadores, livre do espectro do opting out, tendo como referência o SNS, constitui-se como um equivalente a um seguro complementar em que o acesso representa a principal diferença pela qual os beneficiários estão dispostos a pagar.
E se lição houver a retirar deste processo, a principal e mais importante é a necessidade de o governo dar total prioridade à melhoria do tempo de resposta no âmbito do SNS.
Cipriano Justo, Tempo Medicina link
Não havia necessidade
A proposta do OE 2016 prevê o alargamento da ADSE aos conjugues e filhos até 30 anos link
CC, em entrevista recente, foi claro sobre esta matéria link
ACF, na cara do touro, com condições para decidir, preferiu adiar a decisão e nomear uma Comissão de Reforma (CR), presidida por PPB link
Porque é que estas situações me fazem lembrar aquele skech do gato fedorento link
1 Comments:
Sobre a ADSE:
1) Está demonstrado que o brutal aumento da taxa de descontos aplicadas aos salários dos funcionários, de 1,5% para 3,5%, foi excessiva;
2) A ADSE, especialmente depois daquele aumento, vem servindo de principal base de financiamento de parte determinada do sector privado (Ex-BES, Mello, Champalimaud);
3) Tal situação é incorrecta sobre vários prismas:
- Porque se trata de fundos públicos;
- Porque o acesso ás consultas de especialidade daqueles privados se faz com sem qualquer referenciação com uma taxa moderadora de 3,99€ inferior á praticada nos CS e HH;
- Porque gera concorrência desleal com todo o restante sector privado, com os quais não há acordos.
Francisco Guerreiro
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