JMS, choradinho do costume
O grupo vai investir €30 milhões num novo hospital em Sintra, de dimensão semelhante a um novo hospital público que aí surgirá. Porquê?
Nós temos uma estratégia de estarmos cada vez mais próximos das pessoas que nos procuram. Sintra é um dos maiores concelhos do país e não tinha oferta privada de cuidados de saúde hospitalares. Era uma boa oportunidade.
Conseguem rentabilizar este investimento em quanto tempo?
Um investimento no sector da saúde é sempre de longo prazo. Esperamos cerca de dez anos para ter o retorno do investimento.
Em simultâneo o grupo está a investir €100 milhões na CUF Tejo. Como é que tudo isso está a ser financiado?
Temos uma estratégia de financiamento que passa por recorrer ao mercado de dívida, com investidores institucionais. Também temos financiamento bancário mas a nossa estratégia passa cada vez mais por recorrer ao mercado de capitais.
O crescimento dos grupos privados tem sido muito alicerçado na expansão dos seguros de saúde. Sem as seguradoras o vosso sucesso não seria possível?
Sim. Os cerca de 4 milhões de portugueses que têm um sistema de financiamento, seja por via das seguradoras seja por via de subsistemas de saúde, e que beneficiam de liberdade de escolha têm uma oferta diversificada à qual podem recorrer.
A Autoridade da Concorrência está a investigar suspeitas de concertação de preços por parte das seguradoras. Indiretamente pode também dizer respeito aos hospitais privados...
Não tenho nenhuma evidência nem suspeição de que assim seja.
Como estão a correr as parcerias público-privadas (PPP), nomeadamente Braga e Vila Franca de Xira? Houve notícias de algum desagrado da vossa parte em relação à PPP de Braga e à contratualização com o Estado.
As PPP em saúde são um caso de sucesso no nosso país. É hoje evidente que as PPP em saúde apresentam resultados em qualidade clínica muito bons. Braga foi considerado um dos melhores hospitais do país.
No caso de Cascais, o Governo irá ao mercado sondar potenciais novos operadores. Nem tudo está a correr às mil maravilhas.
Do ponto de vista da qualidade clínica é inquestionável que as parcerias são um excelente exemplo. Vários estudos vieram comprovar que as PPP poupam muito dinheiro ao Estado. No caso de Braga a poupança é superior a €30 milhões por ano. No caso de Braga, a verdade é que temos tido défices de exploração. No futuro vai ser importante ter um equilíbrio maior de benefícios entre o Estado e o investidor privado.
De onde vêm esses défices de exploração?
Há um benefício para o Estado superior a €30 milhões por ano. Este benefício vai ter de ser mais bem repartido entre o Estado e o privado, para que isto seja sustentável no tempo.
As receitas que o consórcio do hospital de Braga obtém não são suficientes para suportar os custos operacionais?
É isso mesmo.
Que solução sugere o grupo Mello?
Nós estamos determinados em cumprir os contratos que temos em mãos e é isso que temos feito de forma exemplar. Relativamente ao futuro, o Estado vai ter que tomar uma decisão sobre o que pretende fazer.
Não falta muito para o contrato de Braga chegar ao fim do período inicial [de 10 anos] da parceria.
O contrato termina em setembro de 2019.
Quando é previsível que as partes se sentem à mesa ou que o Governo decida rescindir?
O Governo já anunciou um concurso público para o hospital de Cascais, portanto parece-me razoável que venha a acontecer o mesmo relativamente a Braga. Mas sendo as parcerias um excelente exemplo de coisas bem feitas no sector da saúde, o que me parece razoável é que o Estado queira prosseguir com as PPP e para isso lance concursos públicos como fez em Cascais.
Têm vontade de continuar Braga?
Nós fomos pioneiros nas PPP. Nas condições adequadas, que garantam a sustentabilidade, obviamente estamos disponíveis e interessados em prosseguir a experiência.
Portanto, só se o problema que está a gerar o atual défice de exploração for resolvido.
Com certeza. Nós somos racionais, tem que estar garantida a sustentabilidade do projeto.
E interessa-vos a PPP de Cascais?
Não me vou adiantar a essa questão, que me parece um pouco prematura.
O grupo teria capacidade para gerir três PPP ao mesmo tempo (Braga, Vila Franca de Xira e Cascais)?
Nós estamos concentrados em fazer bem o que temos em mãos. O concurso de Cascais é uma realidade ainda distante.
A chave do sucesso dos privados em saúde não é apenas a hotelaria?
Muito longe disso. A chave do sucesso dos operadores privados é uma visão holística do doente, é associar a prática clínica à investigação e à formação, o investimento em tecnologia de ponta.
Miguel Prado, semanário expresso, 15.07.2017
O choradinho do costume em busca de mais protecção do Estado. Por parte de um grupo económico responsável pela gestão duma PPP insolvente que custa ao Estado 794 milhões, marcada por inúmeros casos de má gestão e opacidade de processos.
1. Adjudicação do novo Hospital Universitário de Braga PPP: O consórcio Escala Braga, formado pela José de Mello Saúde (JMS), Somague e Edifer, apresentou uma proposta inicial de 1.019 milhões de euros, 14.1% abaixo do Custo Público Comparável (CPC) de 1.186 milhões de euros. Na 2.ª fase do concurso (negociação) o consórcio Escala Braga baixou aquele valor para 794 milhões de euros (menos 225 milhões, ou seja, 22% abaixo do CPC), conseguindo, assim, bater o melhor preço apresentado pelo outro concorrente, o consórcio liderado pela Espírito Santo Saúde (843 milhões de euros).link
Correia de Campos , reconheceu, depois de ter saído do MS, em entrevista ao DE, que esta situação o trazia angustiado.
2. Multas e mais multas: «O total das multas aplicadas à entidade gestora do Hospital de Braga por incumprimento de diferentes obrigações contratuais ultrapassa já um milhão e setecentos mil euros. Uma nova auditoria ao Serviço de Urgência desta unidade hospitalar revelou que se mantinham faltas graves detectadas um ano antes e levou a Administração Regional de Saúde do Norte a aplicar, no passado dia 1 de Setembro, mais uma multa, desta vez, no valor de mais de 600 mil euros por “incumprimento reiterado”.» link
3. Cuidados insuficientes: «O Hospital de Braga não tem “atendido às necessidades de cuidados de saúde da população”. Apesar de, nos últimos anos, ter feito mais consultas e cirurgias, esta unidade, que funciona em regime de Parceria Público-Privada (PPP), aceitou um contrato que prevê uma produção de cuidados de saúde que sabe “ser insuficiente”.» link Com o Estado profundamente envolvido nesta bacalhoada.
4. Muita parra e pouca uva. Não conheço nenhum estudo detalhado, competente, sobre a qualidade dos cuidados prestados pelas PPP. link Apenas estudos sobre partilha de riscos e vantagens económico-financeiras dos parceiros. A este propósito, gostava de saber quanto as empresas responsáveis pela exploração das PPP da Saúde gastam em publicidade e marketing.
5.«Rejeitamos as PPP. Elas foram criadas numa lógica de privatização do Serviço Nacional de Saúde, tornando a saúde um negócio altamente lucrativo à custa do sofrimento e da doença dos utentes. A defesa do direito à saúde, o respeito pelos direitos dos profissionais de saúde e o reforço do Serviço Nacional de Saúde passa também pela reversão das PPP para a esfera pública como o PCP tem vindo a propor.» link
5.«Rejeitamos as PPP. Elas foram criadas numa lógica de privatização do Serviço Nacional de Saúde, tornando a saúde um negócio altamente lucrativo à custa do sofrimento e da doença dos utentes. A defesa do direito à saúde, o respeito pelos direitos dos profissionais de saúde e o reforço do Serviço Nacional de Saúde passa também pela reversão das PPP para a esfera pública como o PCP tem vindo a propor.» link
Ao fim e ao cabo, concursos públicos à parte, temos ainda esperança num rasgo de clarividência da geringonça. Que a vaca voe a bem da Saúde.
Clara Gomes
Etiquetas: Clara, PPPs à Portuguesa
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