terça-feira, fevereiro 19

Reforma do SNS

foto JMF
com Ana Jorge e sem Cunha Ribeiro

“Garantir primeiro a criação dos meios alternativos de prestação de cuidados de saúde e só depois avançar para o encerramento das urgências” não é uma resposta de Ana Jorge (AJ) para a polémica do fecho das urgências hospitalares. É antes o mandato explícito e declarado, todos o ouviram, que JS lhe passou. A ser verdade o que lhe é atribuído – e no contexto actual é difícil de distinguir entre o que são, na realidade, declarações de AJ (poucas e desgarradas até agora, o que se compreende) e simples inferências ou tentativas de adivinhação de jornalistas ou comentadores – a resposta de AJ é mais audaciosa: “… o ministério vai abrandar o ritmo de encerramentos, ao mesmo tempo que acelera a criação de meios alternativos de prestação de cuidados de saúde.” (MB no DE de 13.02.2008).

É importante entender correctamente o que AJ, MS, se propõe para não cairmos em divagações estéreis. Em 11 de Janeiro, AJ, ainda não MS, dizia (citações de MB):
- “o que está mal feito no programa da reforma das urgências foi terem sido encerradas sem estarem criadas as condições alternativas”;
- “ter um serviço de urgência é uma falsa segurança. O mais importante é que quando uma pessoa estiver doente tenha uma consulta no seu médico de família em tempo útil”.

Agora AJ, já MS, acrescenta:
- O que entende por meios alternativos: …viaturas médicas de emergência, o reforço dos hospitais mais próximos ou a contratação de mais médicos) estarem no terreno em funcionamento”;
- «É necessário e urgente avançar com a reforma do Sistema Nacional de Saúde»;
- “É prioridade do MS reforçar a rede de cuidados de saúde primários, para que os doentes possam ter consultas “quando precisam a tempo e horas” e, assim, reconquistar a confiança das populações “.

Como se vê, AJ, MS, é coerente com as posições que assumira e não contraria as afirmações de JS sobre a continuidade da reforma do SNS. Mesmo em relação a CC, pelo que diz, converge na necessidade e urgência da reforma do SNS e no papel tão importante que nessa reforma cabe aos CSP que ambos consideravam o seu ponto central.
Para passar à acção, a opção de CC era mais global, distinguindo entre prioridade de um ponto de vista lógico e prioridade de execução, e, contando com a libertação de tempo de trabalho médico que esperava do encerramento de SAP, apostou, por razões de suposta exequibilidade, no início mais visível da reforma pela área das urgências, embora correndo em paralelo, mas em regime de adesão voluntária dos profissionais, a criação de USF. O resto é conhecido e está suficientemente glosado.

Quanto a AJ, o grande teste que tem pela frente, a fazer lembrar a quadratura do círculo, é o de demonstrar que, no quadro que é conhecido – os mesmos recursos humanos e o mesmo orçamento – poderá conseguir o que se propõe (abrandar o ritmo de encerramento, ao mesmo tempo que acelera(r) a criação de meios alternativos). Repito, se se mantiver o quadro que é conhecido. Claro que AJ possui dados que nós não temos. Por exemplo, não sabemos se o objectivo de não exceder o OE se mantém com a mesma importância e prioridade que tinha com CC ou se, no momento actual, foi entendido que a inflexão anunciada exige outro financiamento que não o inscrito no OE. Naturalmente, ninguém poderá aparecer a divulgá-lo, mas é natural que AJ tenha novos limites e os conheça.
É óbvio que a via escolhida por AJ é apaziguadora ou pelo menos adia o conflito, mas exige um aumento de recursos humanos e de orçamento: são os serviços actuais que (ainda) não encerram, mais a criação das alternativas. Deixemos o orçamento e vejamos as alternativas que se oferecem para mobilizar o acréscimo necessário de recursos humanos, que são os mais importantes e os que foram considerados determinantes para a opção de CC.
Primeiro que tudo, sendo o grupo profissional médico o único não atingido pelo desemprego, AJ sabe, à partida, que só a escassez de médicos (concretamente de MCG) inviabilizará a exequibilidade da sua reforma. O que não significa que outros aspectos (incluindo a motivação de todo o pessoal) a não devam preocupar. Mas, de facto, ninguém levará a sério a ameaça feita por Guadalupe Simões (cito de cor) de os enfermeiros se retirarem das USF por discordância com o projecto de atribuição de incentivos que vai entrar em fase de negociação. Até pela simples razão de que há enfermeiros que, não conseguindo o primeiro emprego, estão a aceitar trabalhar em áreas que não correspondem à sua formação específica. E bem piores são as perspectivas dos restantes profissionais, como referem as estatísticas do INE.
Para captar médicos para as USF e para reforço dos hospitais mais próximos (das localidades onde está previsto encerrar SAP ou SU – não esqueçamos que todos eles localizados no interior ou fora dos grandes centros populacionais –), abrem-se duas possibilidades:
- recrutar médicos estrangeiros, de língua portuguesa ou espanhola – há já alguns a exercer em Portugal, mas são em número pouco significativo, não sendo de esperar que desta via venha significativo contributo –; ou/e
- incentivar a opção pela clínica geral e a adesão às USF.

Esta última parece ser a aposta de AJ; haverá, no entanto que considerar o seguinte:
- a opção pela clínica geral liga-se, naturalmente, com o aumento do número de vagas oferecidas para ingresso (internato) e com as condições de exercício da respectiva carreira (designadamente, condições remuneratórias), no confronto com a carreira hospitalar. Tudo num contexto de trabalho na periferia, quando não na extrema periferia, e sem exigência de regime de exclusividade, sendo a acumulação mais fácil para os médicos da carreira hospitalar, concentrados sobretudo nos grandes centros urbanos. De qualquer modo, o eventual aumento do número de MCG só no médio/longo prazo se fará sentir e não no imediato como seria bom para acelera(r) a criação de meios alternativos;
- a adesão às USF poderá, efectivamente, ser promovida através dos incentivos remuneratórios, cujo processo está a avançar, e de outros aspectos favoráveis das USF; sobretudo se, como diz AJ, os incentivos forem de montante significativo, ou seja, suficiente para compensar a maior adstrição e a maior disponibilidade dos profissionais para o desempenho que lhes é exigido – designadamente consulta aberta e domicílios –. Note-se, porém, que mais USF só podem ser consideradas pela produção adicional que proporcionarem: o número de MCG continua inalterado.
- por outro lado, os incentivos remuneratórios não têm apenas aspectos positivos, comportam também riscos. Não estou a pensar no escândalo (deveria ser uma vacina!) em que se constituíram as condições de remuneração da transplantação e da respectiva alta autoridade cujas declarações são simplesmente de estarrecer, porque as condições são globalmente diferentes no âmbito das USF. Mas, concretamente, num sistema remunerativo que abrange uma remuneração base (ou de categoria) e remuneração variável (ligada ao desempenho) há riscos a prevenir: i) impedir que a convicção de que remunerada é apenas a quantidade (porque a qualidade, sendo mais difícil de medir, é mais facilmente escamoteada ou até arredada, quando não simplesmente presumida, isto é a avaliação objectiva e global do desempenho é imprescindível); ii) impedir, quer através do esclarecimento quer pela aplicação de factores de objectividade transparente (a fazer a demonstração prática), que se confundam as duas componentes da remuneração, com a inferência de que onde não há incentivos não tem que haver produção.
Se esta prevenção não for conseguida são de prever pesadas consequências: séria degradação do clima institucional e, mais uma vez, por via distorcida, estaremos perante um aumento do esforço orçamental sem correspondência dos ganhos de produtividade esperáveis.

Tudo isto já estava dito? Admito que sim, mas parece-me oportuno lembrá-lo agora.
Há histórias que se repetem.

Em jeito de post-scriptum.

Escrevi no Post A Reforma em curso, de 10.02.2008:
Último ponto que também não correu bem e que ficou sem o tratamento devido foi a conversa INEM Alijó/Favaios. … não há dúvida de que a conversa foi demonstrativa do que podia e devia ter sido feito (aqui sim, previamente) e, claramente, não foi. Quem não fez o que devia ter feito? O INEM, a entidade que superintende nos Bombeiros ou ambas as Entidades? Como podem permanecer tranquilamente nos seus postos os respectivos responsáveis e deixar passar a suspeita de que, por detrás de tudo, persiste uma guerrilha entre entidades que têm de estar ao serviço do interesse geral?
Veio depois a saber-se que CR pôs o lugar à disposição e que a MS decidiu não lhe renovar o mandato. E veio também a confirmar-se, pela inacreditável reacção de Duarte Caldeira, que a guerrilha entre entidades é uma realidade cujas causas são conhecidas, e não uma suspeita: os BBVV facturam por ano muitos milhões de Euros pelo transporte de doentes.

É sabido que CR defendia a profissionalização da urgência pré-hospitalar e nisso tinha toda a razão; ficou demonstrado, por excesso, que os BBVV não têm, nem se vê que, no actual contexto, possam vir a ter, aptidão para mais do que conduzir a ambulância se houver condutor disponível (em Alijó não havia) e não é isso que exige a urgência pré-hospitalar. Infelizmente, ficou por esclarecer de que lado estavam as responsabilidades, porque as houve.
Aidenós

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7 Comments:

Blogger tambemquero said...

O primeiro ano de vida dos protocolos pioneiros

Os municípios de Espinho, Cantanhede, Fafe, Montijo e Santo Tirso foram os primeiros a chegar a um entendimento com o Ministério da Saúde, no âmbito da polémica da reestruturação da rede de Urgências. Os cinco protocolos foram assinados a 24 de Fevereiro de 2007. Cerca de um ano depois, alguns dos dirigentes locais contaram ao nosso Jornal como avaliam o acordo.

Cantanhede — O hospital local deixou de ter Urgência, que encerrou em Dezembro, e passou a dispor, naquele espaço, de uma consulta não programada para agudos, assegurada pelos médicos do centro de saúde. Foram entretanto criadas as unidades de convalescença e de cuidados paliativos previstas e chegou a viatura de suporte imediato de vida (SIV), mas não a unidade móvel. A cirurgia de ambulatório já foi iniciada, e as novas consultas de especialidade estão em fase de concretização.
João Moura, presidente da câmara municipal, considerou prematuro falar sobre o assunto uma vez que a consulta aberta só está a funcionar há cerca de dois meses. Mas, para o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, o protocolo assinado tem «reflexos negativos», já que «reduz os recursos disponíveis para a população».

A redução do número de camas do hospital (menos seis) e o fim do internamento de agudos são alguns dos pontos negativos apontados por José Manuel Silva. «A população de Cantanhede perdeu o internamento de proximidade», lamenta.
Além disso, o centro de saúde «é altamente prejudicado» com a criação da consulta não programada. «Os médicos estão a ser retirados do seu trabalho normal no centro de saúde e isso reflectir-se-á em menos de 30 mil consultas programadas por ano», alega.
O protocolo prevê também a eventual criação de uma unidade de AVC. «São promessas vãs», considera o médico, lembrando que não há espaço físico, «porque as camas estão cheias», e uma unidade de AVC exige recursos que o hospital não tem.

Fafe — O município saiu beneficiado com o protocolo, já que conseguiu obter um serviço de Urgência básico (SUB), quando a comissão técnica que propôs a nova rede de Urgências não o previa. No concelho passou a haver, a partir de Outubro, também uma ambulância SIV, além de uma consulta aberta no centro de saúde. Para o presidente da câmara, José Martins Ribeiro, Fafe ficou beneficiada, uma vez que passou a integrar a rede nacional de Urgências e todos os restantes pontos do protocolo foram cumpridos. «O município ficou mais salvaguardado», disse ao «TM» o autarca socialista. E José Martins Ribeiro não teme alterações ao acordado, apesar da mudança ocorrida no Ministério da Saúde. «Tenho a certeza de que tudo se vai manter, nem creio que com este Governo se alterem as políticas por mudar o ministro, felizmente», acrescentou.

Santo Tirso — O protocolo também foi favorável ao município, que conseguiu um SUB na sua unidade hospitalar. As obras de ampliação e remodelação do hospital local para o efeito, orçadas em 15 milhões de euros, já estão em curso, segundo disse ao «TM» uma fonte da autarquia. O protocolo previa igualmente a colocação de uma ambulância SIV no hospital, a criação de consulta aberta em três centros de saúde locais e a promoção de USF no concelho. Tudo isso já aconteceu, garante a mesma fonte. Foram igualmente efectuadas obras no Serviço de Cirurgia Ambulatória do hospital de Santo Tirso. De resto, já a 21 de Dezembro, quando recebeu a visita do ex-ministro da Saúde, o presidente da câmara, Castro Fernandes, também ele socialista, disse que «o concelho ficou a ganhar com a assinatura do protocolo».

TM 18.02.08

José Manuel Silva sempre empenhado em lançar gasolina sobre a fogueira.
Tem que fazer jus ao maralhal que aposta nele.

4:37 da tarde  
Blogger e-pá! said...

A VELHA REFORMA E O "NOVO" ANDAMENTO.
ADAGIO OU PRESTISSIMO?

ALEGRO. MA NON TROPO!

"Quanto a AJ, o grande teste que tem pela frente, a fazer lembrar a quadratura do círculo, é o de demonstrar que, no quadro que é conhecido – os mesmos recursos humanos e o mesmo orçamento – poderá conseguir o que se propõe (abrandar o ritmo de encerramento, ao mesmo tempo que acelera(r) a criação de meios alternativos). Repito, se se mantiver o quadro que é conhecido. Claro que AJ possui dados que nós não temos. Por exemplo, não sabemos se o objectivo de não exceder o OE se mantém com a mesma importância e prioridade que tinha com CC ou se, no momento actual, foi entendido que a inflexão anunciada exige outro financiamento que não o inscrito no OE. Naturalmente, ninguém poderá aparecer a divulgá-lo, mas é natural que AJ tenha novos limites e os conheça."

Finalmente, começam a aparecer os factos tantas vezes denunciados e sempre camuflados ou escondidos com políticas e objectivos menos claros ou pouco explícitos.
Isto é, a inequívoca e bilateral relação entre os ritmos de encerramentos de serviços periféricos a que vínhamos quotidianamente assistindo, e as carências orçamentais para, simultaneamente, acelerar a criação de meios alternativos eficazes e seguros, no terreno, que colmatassem os encerramentos, tornava-se dia a dia aflitiva. Fundamentalmente, para os que, conhecendo os problemas da urgência, estavam em consonância com o trabalho desenvolvido pelas recomendações da CTPRU. Só que nunca houve margem política para se colocar ao lado de CTPRU e estar contra o modo e o timing que CC estava a desenvolver no terreno.
Este é um exemplo acabado de modelo "economicista" em Saúde. Poderá ser pintado de todas as cores mas a “mancha” fica. E tanto mais gravosa que, foi posta em vigor, na ausência de um calendário concreto e definido. Estávamos a viver um calendário “ad hoc”, mais ou menos, conversado com acordos de circunstância, do tipo “trocas e baldrocas”, com as autarquias, cuja herança vai ser difícil de gerir pela nova equipa ministerial. Não há velho ou desadequado hospital do interior ou do litoral (pequeno ou grande) que não espere ser transformado numa unidade de cuidados continuados integrada e, ao mesmo tempo, ter em carteira prometida uma unidade de cirurgia de ambulatório. Estes eram “the main fixed package” das negociações de CC. Os custos destas “baldrocas”, nunca eram contabilizados ou orçamentados, mas eles eram representativos. Não se transforma uma enfermaria de medicina interna numa unidade de cuidados continuados ou um bloco operatório central numa unidade cirúrgica de ambulatório, num ápice, ou com poucos custos de investimento. Ou, então, brincávamos com promessas vazias, ou teriam de aguardar - por quanto tempo? - cabimento orçamental.
O fundamental era não afectarem o orçamento do ano em curso. O importante seria não justificarem orçamentos rectificativos. Mesmo que ficássemos a dever enormidades (debaixo do tapete, mas sob a lupa do Tribunal de Contas).

As reformas que se estão a desenvolver mobilizam 3 grandes frentes:
1 - CPS (USF’s);
2 - Urgências (INEM + SUB + SUMS +SUP);
3 – CCI
Esta multiplicidade de objectivos, todos eles essenciais e todos eles complementares, não podem estar permanentemente condicionadas a questões orçamentais. Ou então entramos pelos mesmos caminhos e atalhos que levaram ao encurralamento político e operacional de CC.
Jogar ao mesmo tempo em 3 grandes players requer um boa PlayStation e não podem ter como objectivo “festejos” de mais um ano sem orçamento rectificativo. Isso não é importante. O fundamental é, se houver necessidade de um orçamento rectificativo, compreendamos porquê e para quê. Se para pagar descontrolos de despesas (p. exº: consumo de medicamentos) ou se foi usado para investimento em estruturas básicas, i. e., os alicerces da modernização e a do SNS.
Portanto, o desafio actual de AJ é a consolidação do SNS.
Como de CC foi a consolidação orçamental, o combate ao desperdício e ao despesismo. Foi isso que lhe pediu JS e CC cumpriu. Quando saiu do “aperto” orçamental e passou a ter que introduzir as reformas essenciais, manteve-se na mesma bitola e perdeu-se nos meandros da política, da intriga e da demagogia. A partir dessa altura o facto de não haver orçamento rectificativo deixou de ser relevante e, reconheça-se, as boas contas andaram sempre inquinadas pelo Tribunal de Contas.

AJ tem de fazer, nestas 3 frentes a reforma dos 3 S’s:
Serena,
Segura,
Solidária.
Não a conseguirá fazer se ficar amarrada ao orçamento de Estado desenhado por CC, para outros ritmos e para outros calendários.
Por isso, a continuidade da Reforma passa pela ruptura dos actuais meios orçamentais programados e pelos instrumentos financeiros disponíveis.
Torna-se necessário uma política de “supply siders”, a fim de acorrer a iatrogenias cumulativas (efeitos colaterais) que foram colectadas nos últimos anos e que permitem, ou melhor, tornam obrigatório, perante derivas político-eleitorais, uma indispensável inflexão e um adequado acerto orçamental.
Caso contrário, nenhum político pegaria num Ministério a meio de uma legislatura.
CC, serviu exemplarmente JS até à consolidação do deficit orçamental do Estado, descer abaixo dos 3%. Até aí foi indispensável. A partir daí tornou-se vulnerável. Esqueceu-se em que país vivia. Pior, mostrou não conhecer a estirpe dos políticos que o rodeavam.

AJ, vai sofrer a carga dos sectores “economicistas” da Saúde. E tanto maior quanto a considerarem oriunda da “grande corporação”. Todavia, a minha convicção é que foi politicamente acertado e necessário introduzir uma abertura na política social do XVII Governo Constitucional. Esta inflexão poderá trazer bons resultados, revigorando e rejuvenescendo, uma nova política de Saúde, trazendo a consolidação do SNS.

Porque, na verdade - AJ nunca o poderá esquecer - tudo começou por aí, isto é, pelo questionamento sobre o SNS, no interior do PS. Os motivos é que foram diversos.
Mas isso é a outra parte da história.

5:11 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Adenda:

A leitura do comentário de "tambemquero" sobre o 1º. ano de vida dos protocolos, lembrou-me:

Uma das últimas inovações de CC para as Câmaras reticentes em firmar acordos com o MS foi a par dos CCI e das CA a criação de Unidades de AVC.
Fez-o em Cantanhede e Anadia e repetiu-o à saciedade no último PRÒS & CONTRAS, em que participou.

Recordemos os princípios gerais destas Unidades (UAVC):

- grupos multidisciplinares
- desenvolvimento (coordenado) de plano de cuidadose e de reabilitação integrada,
- conceito do AVC enquanto emergência médica e necessidade
de intensa colaboração entre as diversas especialidades e profissionais.

RECURSOS HUMANOS
As UAVC's devem ter os seguintes técnicos:
- fisioterapeutas,
- terapeutas ocupacionais,
- terapeutas da fala
- técnico de cardiopneumografia
- secretária de unidade;

MOVIMENTO ASSISTENCIAL/
RECURSOS HUMANOS ESPECIALIZADOS
Para uma capacidade de tratamento de 300 a 400 doentes/ano serão necessários:
2 internistas,
2 neurologistas,
1 fisiatra (a meio tempo),
4 enfermeiroscom a especialização
de enfermagem de reabilitação.
E ainda consultoria de
cardiologia.

UAVC'S "À MINIMA"
Estas Unidades nas suas formas orgânicas mais primitivas devem no mínimo dos mínimos ter
1 internista e/ou 1 neurologista graduado e consultores de cardiologia e fisiatria.

EQUIPAMENTO BÁSICO E ESPECÍFICO
- material comum a qualquer
unidade de internamento,
1 ecógrafo que permita
realizar Eco-Doppler cardíaco e
transcraneano, assim como dos
vasos do pescoço.
O HH deve ter acesso 24 h
a 1 TAC
MCDT disponíveis 24 h/dia
e meios terapêuticos específicos:
- terapia fibrinolítica na fase aguda;
- prevenção do tromboembolismo;
- prevenção doa sibndroma de imobilidade.

CONCLUSÃO:
Bem. Fiquemos por aqui. CC, em desespero de causa, não era avaro em prometer.
Estas Unidades seriam tão caras como os SAP's que - correctamente - queria encerrar.
A redução de custos seria diminuta.
Mas, em contrapartida, a qualidade de atendimento nestas urgências melhoraria.

OBSERVAÇÕES:
Todavia, a gravidade da proposta, a sua insanidade, é o facto de, pelo menos, em relação aos recursos humanos não ter qualquer viabilidade prática nos tempos mais próximos.
De modo que estas promessas de UAVC's fazem parte da demagogia negocial entre o MS e o Poder Local.
Não têm outra vida, nem outra utilidade, nem são transparentes.

Mas podem tornar-se numa fonte de problemas ao Ministério actualmente dirigido por AJ.

11:23 da tarde  
Blogger aidenós said...

Caro Tambemquero

Obrigado pelo seu comentário.
Considero muito oportuno dar a conhecer a execução que tiveram os acordos que foram feitos – tenhamos ou não concordado com eles, eu nem concordei – porque demonstram a medida da credibilidade de CC e sobretudo a medida em que era proporcionada a invocação da falta de criação de alternativas que o fez cair.

Caro É-Pá:

Pela lógica, não deveria dizer nada em relação ao seu comentário, porque estou totalmente convencido de que será inútil tudo quanto eu possa dizer. Mas, que posso eu fazer? Aprecio tanto as suas qualidades que não consigo perdoar aos seus defeitos. Palavra! È quase uma questão de “amor/ódio”. Mas, porque tem que ser, vou dizer apenas o mínimo. Que é isto:

- O É-Pá não consegue distinguir entre um deficit meramente conjuntural – era esse o a que me referia, sem sequer o condenar, na parte do meu texto que transcreve – e um deficit estrutural, impossível de manter indefinidamente em qualquer país porque o crescimento da dívida pública leva a que se atinja o chamado “ponto de ruptura” – já nem falo do PEC, no âmbito da EU –;
- Consequentemente, é incapaz de distinguir entre as medidas da estratégia de CC (algumas das quais visavam – mas não só – superar o deficit estrutural do SNS) e as que parece estar a sugerir a AJ e que, foi também o que eu disse sem me alongar na matéria, só serão possíveis com um orçamento rectificativo;

- Mas não é isto que é grave, pois qualquer economista lhe poderá explicar minimamente esses conceitos;

- Pior, e parece-me que incurável – desculpe-me, que não sou médico –, é o impulso irresistível do É-Pá de tudo pretender justificar com a invocação do primado de um estado social, para o qual não haveria limites. Esquece que: i) mais de 75% do OE é o que pode chamar-se orçamento social, sem levar em conta toda a despesa com pessoal dos restantes sectores que obstam a que o desemprego seja mais elevado e, portanto, devem somar-se àquela percentagem; ii) que está cada vez menos e cada vez pior acompanhado nesse posicionamento, porque cada vez se compreende mais que a saúde não é uma área isolada, além de exigir colaborações, competências e análises várias. Veja a este propósito, para lhe dar só um exemplo, o que escreveu sobre a sustentabilidade financeira o Prof. Ara Darzy, que, tal como eu, o É-Pá aprecia (Health Care for London).

- Por favor, não me chame neoliberal, que eu nem sei bem o que isso é.

Post-Sciptum:
Só agora li o que o É-Pá escreveu em Adenda ao seu Comentário, e em relação ao qual nada tenho a contestar. Certamente não era nestas AVC que CC estava a pensar.

8:52 da manhã  
Blogger PhysiaTriste said...

“Normalmente, são os enfermeiros dos hospitais públicos que asseguram, em duplo emprego, as cirurgias nos privados” explica Maria José Dias Pinheiro. Uma situação que considera preocupante, tanto mais que estes profissionais já levam, no mínimo, sete horas de trabalho. “Por lei, o horário dos enfermeiros é de 35 horas semanais. Os que fazem duplo emprego, cumprem cerca de 16 horas diárias de trabalho” clarifica ainda. (Expresso emprego de 16 Fev.).

Maria José sabe do que fala. Foi Presidente durante 16 anos da Associação dos Enfermeiros das Salas de Operações Portugueses (AESOP).

Mas não é em Portugal que há desemprego na Enfermagem?

12:20 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro aidenós:

Queria agradecer-lhe a paciência que demonstra em tentar dirimir as minhas dúvidas bem como a correcção que demonstra tentando esclarecer as minhas inquietações políticas e sociais.
Tanto mais que, encontrando-me à beira da reforma como médico, ao problemas que se levantam à volta do Estado Social, levam-me a encarar seriamente a hipótese de frequentar um curso sobre Economia Social ou de Economia Solidária. Para não morrer estúpido.

O problema do PEC e a dívida pública, i.e., embora os critérios da dívida e do défice sejam sucedâneos, o primeiro aparenta ser mais fácil de administrar, pois a dívida pública move-se mais lentamente e está menos sujeita à contabilidade criativa do que o défice.
Sei, como qualquer português consciente que quanto mais elevado for a dívida pública, mais impostos deixamos para pagar aos nossos filhos e netos…
Algum dia, o Estado vai ter que servir a dívida. Pelo recente ataque aos certificados de aforro não me parece muito empenhado neste caminho.
Mas o "ponto de ruptura" da dívida pública, que começa a ser agitado pelos economistas é quanto: 60% (?), ou este é um número aleatório? Poderá atingir 80% ou 100 % (?).

Claro que, embora não sendo economista, distingo um deficit conjuntural e de um deficit estrutural.
Mas não era isso que queria salientar, que me parecia importante valorizar. O que me parecia importante era desmistificar um conceito repetidamente propalado: nós (XVII Governo Constitucional) temos um orçamento de verdade na Saúde – não carecemos de orçamentos rectificativos! Pareciam-me que haveria algum nojo em pronunciar semelhante conceito - conjuntural, sem dúvida. Nada do que escrevi sugere que passe a ser estrutural.
A política de consolidação orçamental levada tão a peito pelo anterior ministro levará certamente a orçamento rectificativo este ano no MS.
Primeiro, o orçamento é o de CC e não o de AJ. O que parecendo menor é fundamental.
Segundo, a necessidade de um orçamento rectificativos (conjuntural, sublinho), não faz cair a honra do Ministério na lama.
Terceiro, os custos da “birra” do “não orçamento rectificativo” iam acumulando-se, traduzindo-se nos últimos anos em constantes conflitos com o Tribunal de Contas, alongamento dos prazos de endividamento das instituições, sub-orçamemtações, etc.
Portanto, o que eu quis foi, de antemão exorcizar a ministra de um terrível labéu. Ela vai ter que fazer um orçamento rectificativo. Campos não o faria.
AJ vai ter necessidade de fazê-lo, e bem. Porque mudou a velocidade de cruzeiro das reformas. Porque em saúde adoptou a prudeência. Primeiro, garantir a segurança depois promover a mudança. Tudo ao mesmo tempo, conduz à trapalhada de que acabamos de sair.

Qualquer cidadão interroga-se:
O actual sistema de protecção social tem sustentabilidade?
O aumento da esperança de vida, a capacidade de provisionamento das pensões, as expectativas futuras na assistência na doença e medicamentosa, são pesadas responsabilidades sociais que de certo modo fogem à contabilidade da dívida pública. Um dia, para os nossos filhos, nossos netos, as contas vão estar em cima da mesa.
Aí vai ser necessário ter em atenção muitas outras coisas – para a além da gestão económica. Teremos de incorporar conceitos como coesão social, solidariedade social, inter-penetração intergeracional.
E, tenho que reconhecer, não entender a seguinte asserção: “mais de 75% do OE é o que pode chamar-se orçamento social, sem levar em conta toda a despesa com pessoal dos restantes sectores que obstam a que o desemprego seja mais elevado e, portanto, devem somar-se àquela percentagem”.
Isto são questões fulcrais e futuras do neo-liberalismo. Hoje, marginais. Não ando, nem me entretenho a rotular pessoas. Não posso, nem devo, é deixar de estar atento às políticas.
E constato que os conceitos neoliberais impregnam quotidianamente a sociedade e infestam a teoria económica.
Não é preciso, ler muito, estudar muito para conhecer os princípios que foram definidos por Milton Friedman. Poderíamos elaborar um pequeno cardápio, onde cada um de nós se reconhecesse ou não.
Assim:
- participação estatal mínima na economia de um país;
- o governo não intervêm no mercado de trabalho;
- privatização de empresas estatais;
- livre circulação de capitais internacionais;
- abertura da economia para a entrada de multinacionais;
- adopção de medidas para um mercado aberto (sem proteccionismos);
- desburocratização do estado: leis e regras económicas mais simplificadas para facilitar o funcionamento das actividades económicas (simplex);
- emagrecimento do estado, tornando-o menos regulador e pouco eficiente;
- posição contrária aos impostos e tributos excessivos;
- aumento da produção, como objectivo básico para atingir o desenvolvimento económico;
- o mercado é suficiente para regular os preços;
- a base da economia deve ser formada por empresas privadas;
- pouca intervenção do governo no mercado de trabalho;
- privatização de empresas estatais;
- livre circulação de capitais internacionais;
- abertura da economia para a entrada de multinacionais;
- posição contrária aos impostos e tributos excessivos (ausência de solidariedade social e tributária)
- aumento da produção, como objectivo básico para atingir o desenvolvimento económico;
- livre funcionamento do mercado;
- o motor da economia são as empresas privadas;
- …

Um extenso rol que vai, dia a dia, agudizando, globalizando e se apoderando da Economia. – das Economias…

Quanto à necessidade de ter assente os pés no chão chamo-lhe a atenção para um pormenor:
Por alguma razão classifiquei o novo andamento da Reforma da Saúde, sob a batuta de AJ, como: ALEGRO. MA NON TROPO!

A chamada de atenção para as UAVC’s é um exemplo como situações complicadas podem levar a desvarios.
Provavelmente o que CC falava eram “depósitos de AVC’s”.

A situação por exemplo em Medicina Física e Reabilitação, mesmo fora destas Unidades, é dramática. Basta olhar para o Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul de S. Brás de Alportel e as dificuldades que tem passado para preencher o quadro de fisiatras.
Como será possível arranjar recursos humanos para os Cuidados Continuados Integrados de média e longa duração?
Ou vamos transformá-los em “depósitos de incapacitados” de doentes que necessitam de cuidados médicos, de enfermagem e de reabilitação em diversas fases de convalescença?

12:23 da tarde  
Blogger aidenós said...

Caro É-Pá

Obrigado pelo seu comentário.
Primeiro o que declara não entender. Afirmei que “mais de 75% do OE é o que pode chamar-se orçamento social, sem levar em conta toda a despesa com pessoal dos restantes sectores que obstam a que o desemprego seja mais elevado e, portanto, devem somar-se àquela percentagem”. O É-Pá diz não entender essa asserção.
Será a expressão orçamento social? Não; uma simples pesquisa na Net mostra que a expressão é corrente: cerca de 566.000 resultados para orçamento social. Entre eles os dois seguintes: “Orçamento Social do Governo Federal 2001 – 2004” (Alemanha) e “A idéia que se tem sobre Orçamento Social no Brasil é relacionada, principalmente, com a previsão de gastos nas áreas de previdência, saúde, educação,...” Tal como em Portugal: “No Orçamento do Estado para o ano de 2008, a despesa do subsector Estado orçamentada nos vários ministérios traduz as políticas e prioridades sectoriais definidas, com relevo para as funções sociais, considerando o esforço orçamental com maior peso no Ministério Saúde, Trabalho e da Solidariedade Social e no Ministério da Educação,...”(V. OE, Ponto IV.1, pág. 180). Com maior peso, mas não sendo os únicos a pesar.

Quanto à percentagem, limitei-me a citar, longe da letra, o que um renomado economista – se não erro, Medina Carreira – declarou ao Expresso na semana em que foi votado na AR o OE para 2008. Confesso que a credibilidade do economista desmotivou-me de conferir a percentagem. Verifico agora, pela consulta dos quadros anexos link, que aquela percentagem terá sido estimada tomando os orçamentos dos ministérios sociais (do Trabalho e Solidariedade Social, da Saúde, da Educação, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Cultura) que perfazem 24.811,1 Milhões, e ainda as despesas com saúde (ADSE, ADMA e outros subsistemas), com pensões e reformas e os encargos com a dívida publica (estas, na sua grande maioria, provenientes de deficits do SNS e da SS), todas inscritas no Ministério das Finanças e que em conjunto ascendem a 8.628,40 milhões. As duas parcelas totalizam 33.439,50 milhões de Euros, ou seja, mais de 59,7% do Total do OE para 2008 (55.996,0 milhões de Euros). Ninguém duvidará que o contributo para o emprego dos restantes Ministérios corresponderá a bem mais que os 15% que faltam para se atingirem os 75% que referi. Se nada está a escapar-me, devo corrigir a minha afirmação. Onde escrevi sem levar em conta toda a despesa com pessoal, deveria ter escrito levando em conta a despesa com pessoal.

Depois, uma simples correcção no seu discurso. Diz o É-Pá: O aumento da esperança de vida, a capacidade de provisionamento das pensões, as expectativas futuras na assistência na doença e medicamentosa, são pesadas responsabilidades sociais que de certo modo fogem à contabilidade da dívida pública. Um dia, para os nossos filhos, nossos netos, as contas vão estar em cima da mesa. Infelizmente, não fogem, de modo nenhum; para os nossos filhos e netos e também para os pais e avós deles: no OE de 2008, estão inscritos, para o É-Pá e para mim, 5.040,00 Milhões, ou seja, 9% do Total do Orçamento!

6:44 da tarde  

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