sexta-feira, setembro 9

Cortes a eito

Depois do triste episódio do corte de incentivos dos transplantes, foi a vez do Governo anunciar a descomparticipação das pílulas anticoncepcionais e de três vacinas que fazem parte do Programa Nacional de Vacinação (cancro do colo do útero, hepatite B e estirpe do tipo B do vírus da gripe), vendidas em farmácia, sujeitas, por conseguinte, a receita médica.

O porta-voz do Ministério da Saúde explicou, na altura, muito bem, as razões que justificavam a descomparticipação das pílulas anticoncepcionais: "São distribuídas gratuitamente nos centros de saúde, são muito baratas e a maior parte das mulheres compram sem prescrição médica", não usufruindo assim da respectiva comparticipação. Quanto às três referidas vacinas o ministério garantiu a distribuição gratuita nos centros de saúde.
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Estes cortes provocaram, inevitavelmente, o primeiro coro generalizado de protestos. Um pequeno ensaio para o que aí vem.
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Paulo Macedo decidiu recuar. Bom senso, mas também humilhação política. Bem patente no inevitável comunicado do assessor de serviço: «Não há, até ao momento, qualquer decisão sobre a descomparticipação de medicamentos como anticoncepcionais, vacinas integradas no Plano Nacional de Vacinação e associação de medicamentos antiasmáticos e broncodilatadores, refere uma nota de esclarecimento divulgada hoje pelo Ministério da Saúde.»
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Tudo como dantes. Até à próxima trapalhada. Cortes e mais cortes... a eito. A dar vontade de concordar com Mário Soares: "Não se pode entregar o serviço nacional de saúde a um bom contabilista que diz: 'vamos cortar, cortar, cortar'! Então e os doentes ?"
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A porta de saída ficou mais perto.

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6 Comments:

Blogger tambemquero said...

Outro recuo a assinalar: ao invés do previsto, as taxas moderadoras não vão depender do IRS.
expresso 10.09.11

3:50 da tarde  
Blogger Clara said...

“é muito diferente anunciar e executar cortes da despesa. Em termos imediatos, a operacionalização e execução de cortes racionais na despesa não é possível”.
Victor Gaspar

Seja como for, a entrada do ministro da saúde tem sido desastrada.
Admito que esteja a ser mal aconselhado como o caso do corte dos anticoncepcionais faz antever.

«Segundo o Infarmed, dos €55 milhões de euros em pílulas vendidas em 2009, apenas €9,5 milhões são relativos a consumos com receita e comparticipação (hoje de 69%).»

«A única descomparticipação confirmada é a das vacinas contra o vírus do papiloma humano (agente do cancro do colo do útero), hepatite B e hemophilus tipo B (bactéria na origem da meningite e da pneumonia). A tutela diz que a decisão de eliminar o copagamento público, de 37%, surge no âmbito de uma revisão do Plano Nacional de Vacinação (PNV). “Estamos a ponderar, a cada momento, adaptar e até ampliar o PNV, garantindo sempre que qualquer decisão de descomparticipação não deixará de ser salvaguarda pelo acesso gratuito através do PNV”.
A filosofia é que o Estado garanta gratuitamente, via PNV, as vacinas com mais-valia cientificamente comprovada, descomparticipando o seu consumo nas outras situações. Por exemplo, quando a criança está fora do limite de idade definido para a imunização ou a vacina não consta do PNV.» expresso 10.09.11

4:04 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

«No que respeita aos métodos disponíveis, verificou-se que a pílula contraceptiva é o método escolhido pela maioria das mulheres, em 65,6% dos casos. A taxa de utilização deste método é particularmente elevada até aos 34 anos, registando a partir dessa idade uma redução considerável. Em contrapartida, o dispositivo intra-uterino, cuja utilização no país é de 8,6%, regista utilização acrescida entre os 40-49 anos, com uma taxa de utilização de 14,7%.
A utilização do preservativo é de 13,2%, caracterizando-se por níveis de utilização elevados nos grupos etários que iniciam e finalizam a idade fértil, respectivamente 20,9% entre os 15 a 19 anos e 19,2% entre os 50 a 55 anos. Nos restantes grupos etários a utilização de preservativo é relativamente homogénea.»

Inquérito Nacional de Saúde

O consumo de preservativos no nosso país é muito baixo.
Comparativamente à vizinha Espanha: "consumo anual médio per capita é de 3,1 em Espanha e 1,6 em Portugal".

O que significa que no nosso país as mulheres, uma vez mais, são as grandes sacrificadas. A utilização de preservativos não tem efeitos adversos que se saiba, a não ser quando rebentam.

Outro ponto de vista: Dar-se-à o caso de haver em perpectiva algum projecto de construção de fabricas de preservativos no nosso país de algum lobi ligado à maioria no poder?
O corte da descomparticipação dos anticoncepcionais estaria assim ligado à dinamização da nossa economia.

4:55 da tarde  
Blogger saudepe said...

1789- Maria Antonieta: Não têm pão? Comam brioches.

2011- Portugal: Não têm pílulas?Façam broches.

Carlos Vaz Marques


Porque, Boche é brom!

Alexandre O´Neill

5:40 da tarde  
Blogger antonio said...

GREVE POR TEMPO INDETERMINADO NO CENTRO HOSPITALAR DE TRAS OS MONSTES E ALTO DOURO APARTIR DO DIA 23 DE SETEMBRO. PELO PAGAMENTO DOS SUPLEMENTOS REMUNENATORIOS DE FORMA IGUAL PARA TODOS OS ENFERMEIROS.
GREVE DECRETADA PELO SINDICATO DOS ENFERMEIROS (SE). ESTEJAM ATENTOS AO SITE DO SE APARTIR DE 12 DE SETEMBRO.

10:42 da tarde  
Blogger e-pá! said...

PORQUE SE INSISTE NOS ERROS ANTIGOS?

Reformas travam vagas para médicos de família…
Indisponibilidade para ensinar ou falta de espaço físico são outras causas para a quebra.
Ministério pede um esforço adicional.
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Esta é uma das consequências (existem outras…) para a qual – desde há muito tempo – o MS foi sendo alertado. A “destruição” das carreiras profissionais num serviço público, com as características do SNS, teria necessariamente reflexos (futuros) no específico modelo de formação e no desempenho.
De facto, em nome de ganhos no controlo da despesa com recursos humanos, não se preveniu o futuro. A formação acabou. Foi esmagada pela “produção” e pela “competitividade”. Os resultados, no imediato, saciaram os apetites ministeriais. Agora, é tarde para pedir esforços adicionais.

O resultado está à vista: importam-se profissionais…
E a "solução" é previsível: prosseguir na senda de debilitar o SNS em nome do rigor orçamental (do cumprimento escupuloso do memorando... etc.).
Falta acrescentar a justificação política. Assim: a "situação" (a sustentabilidade financeira do SNS) é pior do que jugávamos e não há alernativas...

Viva o "pensamento único" para branquear erros e justificar o desastre!

1:08 da tarde  

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