Hipocrisia Política e Farisaísmo Social
"...Não acredito que algum dos senhores deputados acredite que algum médico vai deixar de fazer aquilo que deve fazer por estar a ser pior pago...", argumentou o Secretário de Estado Adjunto, Fernando Leal da Costa, referindo-se à redução de incentivos sobre os transplantes.
Independentemente do facto de os médicos terem de compreender e colaborar na superação da crise (como todos os portugueses) a argumentação do SEAS baseada num tipo de vocação (caritativa) de cariz eremita e filantrópico para um grupo profissional específico é enternecedora, vindo de parte de quem vem (de um médico!) e será, acima de tudo, reveladora de uma enorme hipocrisia política.
Na verdade, para um Governo (neoliberal) que tem demonstrado encarar o Estado Social através de frios números - "aparecendo" nesta área a cortar a eito – este chamamento aos deveres deontológicos profissionais mostra, tão somente, um incomensurável farisaísmo.
Acredite, Senhor Secretário de Estado, que os portugueses não se deixam enrolar por “teias pseudo-moralistas”.
É que, de há uns tempos a esta parte, não parámos de dar para este peditório (enquanto existem gritantes “imoralidades” como, p. ex., a não taxação pelo imposto extraordinário dos rendimentos sobre o capital e o BPN é “oferecido” à custa do sacrifício dos contribuintes...).
E-Pá!
Independentemente do facto de os médicos terem de compreender e colaborar na superação da crise (como todos os portugueses) a argumentação do SEAS baseada num tipo de vocação (caritativa) de cariz eremita e filantrópico para um grupo profissional específico é enternecedora, vindo de parte de quem vem (de um médico!) e será, acima de tudo, reveladora de uma enorme hipocrisia política.
Na verdade, para um Governo (neoliberal) que tem demonstrado encarar o Estado Social através de frios números - "aparecendo" nesta área a cortar a eito – este chamamento aos deveres deontológicos profissionais mostra, tão somente, um incomensurável farisaísmo.
Acredite, Senhor Secretário de Estado, que os portugueses não se deixam enrolar por “teias pseudo-moralistas”.
É que, de há uns tempos a esta parte, não parámos de dar para este peditório (enquanto existem gritantes “imoralidades” como, p. ex., a não taxação pelo imposto extraordinário dos rendimentos sobre o capital e o BPN é “oferecido” à custa do sacrifício dos contribuintes...).
E-Pá!
2 Comments:
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, afirmou sexta-feira ser “absolutamente falacioso e demagógico falar em hospitais empresas em falência técnica”, sustentando ser uma situação que “deve ser devidamente explicada e dissecada”, avança a agência Lusa.
“O que nós, Ordem dos Médicos (OM), exigimos, porque é o Governo que tem esses dados, é que nos dia se os hospitais públicos são geridos bem, com rigor, honestidade e transparência ou não”, disse à Lusa José Manuel Silva à margem do I Congresso dos Serviços de Urgência dos Hospitais EPE (Entidades Públicas Empresariais), que decorreu no Funchal.
Argumentou que “o único accionista dos hospitais é o Estado e quem paga aos hospitais é o Estado, pelo que se decidir pagar um pouco mais por cada ato praticado estes deixam de estar em falência, de decidir pagar um pouco menos todos os hospitais entram em falência”.
Para o bastonário da OM, “se os hospitais estão em falência, então é uma questão de financiamento ou não há uma gestão transparente, rigorosa, honesta e então substitua-se esses conselhos de administração”.
Defendeu ser necessário mudar a cultura de responsabilização em Portugal, sustentando que os políticos, governantes e decisores também deviam prestar contas pelas consequências das suas decisões.
“Achamos que não faz sentido nenhum falar em falência de hospitais empresa nas circunstâncias actuais. Nós queremos que conselhos de administração que estejam a gerir mal sejam destituídos, penalizados”, sustentou.
Segundo José Manuel Silva, “muitos hospitais estão em grandes dificuldades porque os subsistemas públicos de saúde não lhes pagam atempadamente, porque por força de erros da legislação têm grandes dificuldades em cobrar as despesas, por exemplo as seguradoras”.
Realça que Portugal “tem um excelente Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, cuja “sustentabilidade nunca poderá ser posta em causa, porque o que está verdadeiramente posto em causa é a sustentabilidade de Portugal”.
O responsável da OM diz que faz “críticas a algumas medidas que são tomadas no SNS porque podem pôr em causa o SNS, a quantidade de serviços disponibilizados aos cidadãos com qualidade, sem estarem a ser tomadas noutros sectores da economia e que sejam adequadas à boa governação do país”.
Conclui que se está a “causticar a saúde, está-se a ir buscar à saúde dinheiro para tapar buracos noutros sectores da economia e da governação do país, o que é insustentável”.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, afirmou na quarta-feira que os hospitais públicos têm um défice estimado de 300 milhões de euros em 2011, estando numa situação de falência técnica.
12.09.11
Muito bem o bastonário da OM.
A bater-se muito bem no campo do adversário.
José Manuel da Silva a lançar criticas certeiras à actuação do ministro da saúde. Ponderado, com um discurso tecnicamente irreprensível, a contrastar com a actuação atabalhoada de Paulo Macedo.
"...Não acredito que algum dos senhores deputados acredite que algum médico vai deixar de fazer aquilo que deve fazer por estar a ser pior pago...".
Este trechozito poderá ter muitos defeitos, mas pelo menos uma virtude tem, seguramente: a de dizer com clareza aquilo que (quase) todos os que passaram por aquela câmara pensa(ra)m baixinho.
Este aproveitamento, pois não tem outro nome, do trabalho de alguém, com o pressuposto que está quase divinamente comprometido com uma suposta causa maior, agonia-me. Usar desta forma o conceito de moralidade é, a meu ver, absolutamente imoral.
Mas isto, este tipo de pensamento em dó menor, não é novo. Este «imperativo ético» é aproveitado sempre que se mistura na mesma frase «tratar», «médico», «ganhar», «dinheiro». Tomemos a greve, por exemplo: se qualquer profissional, fazendo greve, não tem receio de lutar, o médico (como o enfermeiro), fazendo greve, não tem consciência de cuidar. E isto apesar dos serviços mínimos (que em Portugal são pelo menos médios).
Agora o sôtor Leal da Costa acerta: se me passassem a pagar dois euros à hora, obviamente que, se tal de mim dependesse, não deixaria morrer ninguém ao meu cuidado. Mas era preciso uma coisa: que eu continuasse a trabalhar para quem me pagaria dois euros à hora (o leite desnatado será mais fácil de congelar, presumo eu).
É que, sôtor, o «pior pago» a que se refere, é quanto? Qual é a fasquia, em dinheiro, em euros, a partir da qual os médicos têm legitimidade para deixar de tratar alguém que precise? Quando é que deixa de ser imoral, contrário à ética ou deontologicamente reprovável fazê-lo? Nunca? E se o médico, para salvar um doente, precisasse de investir do seu dinheiro, poderia recusar-se a fazê-lo? Era aceitável? Qual a fasquia, meu caro sôtor? Cinco euros? Zero? Menos 5 euros? Menos infinito? Teremos que nos cobrir dumas vestes longas e, com um malmequer entre os dedos e os olhos no infinito, retirarmo-nos das pulsões mundanas para melhor servir os demais em Cristo?
Não sei o que me responderia se me ouvisse, mas deixe-me dizer-lhe: se houvesse alguma fasquia para entrar nessa câmara onde falou, não teria nunca tido a oportunidade de lá ser ouvido.
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