Uma só urgência hospitalar para a zona da Grande Lisboa
ou o
desmascaramento final de uma política de ódio ao direito constitucional e
humano à saúde?
Foi divulgada recentemente na comunicação social a decisão
da A.R.S. de Lisboa e Vale do Tejo de colocar em funcionamento, a partir do
próximo dia 2 de Setembro, uma única urgência hospitalar em toda a zona da
Grande Lisboa durante o período nocturno, encerrando todas as outras.
Face à gravidade da situação que irá ser criada e às
inevitáveis consequências que daí advirão e que são de fácil previsão, o
Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM decidiu tomar a seguinte posição:
1- A decisão agora anunciada revela um profundo desprezo
ministerial pelas necessidades assistenciais de um conjunto muito significativo
de cidadãos que não se circunscreve à zona geográfica anunciada.
Como sabemos, existem múltiplas situações clínicas que de
toda a zona sul do país são enviadas para as urgências dos hospitais centrais
de Lisboa.
Ao contrário do que foi sendo apregoado nos últimos meses
pela propaganda ministerial sobre uma hipotética reestruturação das urgências
da cidade de Lisboa vem agora a revelar-se que o real objectivo se estende a
toda a zona da Grande Lisboa, tornando-se claro que não existe qualquer estudo
prévio que fundamente tais propósitos nem sequer uma avaliação do impacto que
eles terão na população atingida.
2- Os argumentos utilizados pela citada A.R.S. para
justificar tal decisão referem-se à escassez de recursos humanos e ao
envelhecimento dos respectivos quadros, o que não tem qualquer correspondência
com a realidade objectiva dos factos.
Existem médicos mais jovens que continuam a aguardar por
concursos públicos e que têm formas precárias de trabalho sem qualquer
possibilidade de evolução técnico-científica.
Aquilo que está realmente em causa é uma política
ministerial, desde há muito premeditada, para encerrar gradualmente o maior
número possível de instituições públicas de saúde.
3- Também recentemente, cerca de meia centena de USF da zona
da Grande Lisboa vieram denunciar que essa A.R.S. lhes estava a impor
exigências "de redução de custos para níveis que podem colocar em causa a
qualidade, a segurança e a equidade dos cuidados prestados".
Ora, todos sabemos que o recurso em maior ou menor grau às
urgências hospitalares está directamente relacionado com a capacidade de
resposta dos centros de saúde e, em particular, da medicina geral e familiar.
Com esta redução de custos, é fácil prever que o recurso às
urgências hospitalares pode ser a única via de acesso à prestação de cuidados
para muitos cidadãos da zona da Grande Lisboa.
E aí, a medida do Ministério da Saúde é encerrar em larga
escala a quase totalidade das urgências hospitalares durante o período nocturno.
4- A actual equipa do Ministério da Saúde tem desenvolvido um
plano dissimulado de amplos cortes cegos na saúde, muito para além dos
compromissos assumidos pelo Governo junto da chamada Troika.
Apesar desses cortes indiscriminados, ainda recentemente a
auditoria do Tribunal de Contas veio mostrar que o resultado líquido do
exercício do SNS relativo a 2011 continuava a apresentar um brutal agravamento
de largas dezenas de milhões de euros.
Este facto, por si só, mostra que a gestão ministerial tem
pautado a sua acção por meros cortes nas funções assistenciais aos cidadãos.
5- Apesar da referida medida ser apresentada como relativa
ao período nocturno não podem subsistir quaisquer dúvidas que isso constitui
uma etapa inicial que rapidamente conduzirá à sua integral aplicação durante
todo o período diário.
6- Torna-se já escandaloso o sistemático comportamento do
Ministro da Saúde que em vez de assumir as medidas iníquas idealizadas por uma
política governamental de liquidação das políticas sociais e do Estado Social
se esconde atrás dos seus nomeados nos órgãos de gestão dos serviços de saúde
reservando-lhes a eles o papel de anunciadores e de supostos decisores perante
a opinião pública sempre que estão em causa medidas impopulares.
É fácil prever num contexto desta gravidade que a drástica
redução da capacidade de atendimento a nível das urgências irá traduzir-se,
inevitavelmente, por situações muito delicadas no plano humano.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM continuará a
desenvolver todos os esforços para impedir o desenvolvimento desta acção clara
de liquidação do SNS e do direito constitucional à saúde.
SM – Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM , Lisboa, 19/8/2013
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