segunda-feira, outubro 7

Cirurgia cardíaca chumbada em Lisboa


«Os hospitais de Santa Cruz, Santa Maria e Santa Marta, em Lisboa, chumbaram numa auditoria internacional realizada aos serviços de cirurgia cardíaca e cardiotorácica - coração e pulmão.
A pedido da Administração Regional de Saúde (ARS), a avaliação detectou falhas na coordenação, no registo clínico electrónico  na gestão das listas de espera e no acompanhamento dos doentes após a alta do hospital, entre outras áreas.
A qualidade técnica não é posta em causa, mas os auditores recomendam o fecho dos serviços de cirurgia cardíaca para adultos e crianças no Hospital de Santa Cruz, ficando apenas com os cuidados médicos de cardiologia. O Colégio de Cirurgia Cardiotorácica, presidido pelo professor Manuel Antunes, já fez saber que é contra a auditoria, feita sem visitas a enfermarias, blocos operatórios ou consultas externas. "A metodologia utilizada foi no mínimo estranha. O professor Paul Sergeant não visitou enfermarias blocos operatórios ou consultas. Antes, em sala fechada, solicitou dados estatísticos e outras informações sobre cada serviço, bases de dados, etc, num interrogatório amiúde feito em tom inquisitório agressivo".
A equipa liderada por Paul Sergeant, propõe ainda que as crianças da região com problemas de coração ou pulmões sejam operadas exclusivamente em Santa Marta. O hospital recebeu críticas menos duras e é indicado para a aposta na expansão da oferta cardiotorácica na região.
Para Santa Maria é sugerida uma grande reforma. O hospital teve a pior classificação. Ainda assim, não é proposto nenhum encerramento dada a sua natureza universitária.
O director do programa para as doenças cerebrocardiovasculares, Rui Ferreira, desdramatiza a auditoria em que participou. “Há alguns problemas e Santa Maria foi a unidade que teve mais lacunas, mas das conclusões não decorre directamente o encerramento ou abertura de unidades”. Por outras palavras, “as intervenções menos comuns devem ser concentradas em alguns hospitais, porque não podem todos fazer tudo”, diz Rui Ferreira. E dá como exemplo as intervenções cardiotorácicas em recém nascidos e crianças.
O secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Leal da Costa, confirma que a cirurgia cardiotorácica vai mesmo ser reorganizada, mas garante que ainda está em aberto se vão, ou não, fechar serviços. “A cirurgia cardiotorácica deve ser vista de forma global e concordo com a reorganização de serviços. Admito que possa surgir um conjunto de soluções diferentes, pois vai proceder-se a uma avaliação e discussão de onde poderão surgir mais contributos”. Ou seja “a auditoria é apenas um parecer e não tem carácter vinculativo”.
Nos hospitais visados estranha-se ainda a escolha dos serviços de cardiotorácica do Hospital da Cruz Vermelha como unidade de comparação fora do SNS. Os peritos deram-lhe nota positiva e recomendam a sua presença na futura organização para responder aos doentes com esperas excessivas para serem operados em Santa Maria e Santa Marta. Os assessores da Cruz Vermelha dizem apenas que “ainda não foram notificados sobre as conclusões”»
Vera Lúcia Arreigoso, Sábado, 5 de outubro de 2013 link 

Também concordo com a reorganização de serviços. Se o processo for conduzido de forma séria e competente. Mas quando, mais um estudo encomendado a peritos internacionais, propõe fechar Santa Cruz, dar nota positiva ao serviço de cardiotorácica do Hospital da Cruz Vermelha e recomendar a sua presença na futura organização para responder aos doentes com esperas cirúrgicas excessivas em Santa Maria e Santa Marta, a coisa dá para desconfiar.
drfeelgood

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3 Comments:

Blogger Tavisto said...

Sobre esta notícia alarmista, divulgada com base em estudo encomendado pela ARS Sul, quanto à qualidade da cirurgia cardiotorácica praticada nos hospitais do SNS de Lisboa, vem o Dr. Leal da Costa dizer que “a auditoria é apenas um parecer e não tem carácter vinculativo”.
Pois, será! O problema é que a credibilidade das instituições do SNS foi irresponsavelmente posta em causa, pelos vistos pela mão da ARS Sul. Quando se dá nota negativa ou se recomenda o encerramento de serviços, o cidadão comum desconfia que as razões invocadas de “falhas na coordenação, no registo clínico electrónico na gestão das listas de espera e no acompanhamento dos doentes após a alta do hospital, entre outras áreas” são justificativos para esconder maus resultados cirúrgicos.
Quer se queira quer não, objectivamente está criada a incerteza quanto à qualidade dos actos cirúrgicos praticados nas três instituições públicas.
Ao ler a notícia vem imediatamente á mente o relatório recente “Auditoria aos serviços de cirurgia cardiotorácica das unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde” do Tribunal de Contas, envolvendo, entre outros, dois dos hospitais aqui visados (Santa Maria e Santa Marta).
Nas recomendações finais pode ler-se:

- Todas as unidades hospitalares auditadas apresentam resultados positivos da atividade desenvolvida pelos serviços de cirurgia cardiotorácica.
…….
é questionável a necessidade de prestação destes serviços aos utentes em regime de complementaridade, já que o aproveitamento a 100% da capacidade efetiva no SNS constitui uma oportunidade para reduzir os prejuízos operacionais e promover a sustentabilidade económico-financeira dos hospitais do SNS.

No interesse de terceiros, face ao risco do SNS vir a ser reorganizadas no sentido de dar resposta plena às necessidades em cirurgia cardiotorácica, havia pois que lançar a suspeição pondo em causa, mesmo que de forma enviesada, a valia técnica das instituições públicas.

4:43 da tarde  
Blogger Clara said...

Esta auditoria encomendada é uma vergonha. O objectivo é, mais uma vez, arranjar um argumento falacioso e enviesado para encerrar um hospital público em benefício de um privado. Portugal já tem falta de camas no SNS, este tipo de inacreditáveis jogadas de bastidores não podem continuar a acontecer!
José Manuel Silva in facebook

11:36 da tarde  
Blogger Clara said...

Um cirurgião belga esteve a auditar os serviços de cirurgia cardiotorácica em Lisboa e recomendou a concentração de serviços, deixando de fora o Hospital de Santa Cruz, mas considerando que "faz sentido" manter o semipúblico Hospital da Cruz Vermelha.

As conclusões do relatório, a que a agência Lusa teve acesso, estão a preocupar os profissionais do Hospital de Santa Cruz, nomeadamente os médicos do serviço auditado, que não sabem o que a tutela vai fazer com as recomendações de Paul Sergeant, nas quais não está definido um futuro para esta unidade de saúde.

Mas também nos outros hospitais públicos visados -- Santa Marta e Santa Maria -- o relatório não foi bem recebido, tendo mesmo levado o diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente) a escrever à Ordem dos Médicos para que esta se pronunciasse.
Lisboa, 08 out (Lusa) --
Uma vergonha!


11:38 da tarde  

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