terça-feira, agosto 24

Proposta do PSD prá Saúde

“Marcelo Caetano foi mais progressista do que o PSD”

Correia de Campos contesta a proposta do PSD para a Saúde que vai condenar o serviço público.

Diário Económico (DE): É uma boa base de trabalho a proposta do PSD para a Saúde que deixa cair o “tendencialmente gratuito” mas garante que ninguém sem rendimento deixará de ser tratado?
Correia de Campos (CC): O PSD não se apercebeu mas está a condenar o SNS.

DE: Porquê?
CC: Uma das regras do SNS é a gratuitidade, sendo o pagamento um complemento. O que o PSD pretende é o pagamento como regra, logo no acto de consumo, e a isenção para os pobrezinhos. Não há nenhum serviço universal (nem em França e na Bélgica onde os serviços de saúde são pagos maioritariamente pela Segurança Social) onde o Estado não assuma grande parte dos encargos.

DE: A proposta do PSD é a seu ver um erro…
CC: É uma regressão! No tempo de Salazar o Estado era o quinto ou sexto a assumir as despesas de Saúde depois do utente, da família e das IPSS. Até Marcelo Caetano foi mais progressista. Quando alguém entra numa urgência é impossível avaliar os seus rendimentos.

DE: Dadas as restrições financeiras do Estado como se assegura a sustentabilidade do SNS?
CC: Acredito que ainda existe margem para subir as taxas moderadoras de forma a valorizar-se o serviço prestado. Se o cidadão e o médico sabem que é tudo gratuito não se dão conta do custo do serviço.

DE: Mais de 2,5 milhões de portugueses têm seguro de saúde. Não é a prova de que o SNS já não responde às necessidades?
CC: Mais de metade desses seguros são fictícios e estão associados a cartões de crédito. Também existem seguros de saúde opcionais que muitas empresas dão aos seus trabalhadores mas que só se aplicam a pessoas no activo e são normalmente utilizados para pagar despesas de saúde que são adiáveis ou para um maior conforto do utente. Mesmo os seguros de saúde que são pagos pelas empresas não podem exceder 15% da verba gasta em despesas com pessoal porque têm uma dedução limitada pelos seguros de vida.

DE: Num momento em que o sector público da Saúde dá sinais de pouca vitalidade no controlo orçamental como se travam, então, os gastos públicos?
CC: Com disciplina. Deixo, apenas, um exemplo: é um escândalo nacional ter-se aberto em Leiria uma unidade com as mesmas valências que existem em Coimbra e em Lisboa pagando-se mais a profissionais e abrindo a concorrência entre serviços.
entrevista, francisco teixeira, DE 24.08.10

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2 Comments:

Blogger e-pá! said...

Manifesto, agenda política e aboquejar...

O "Manifesto em Defesa do SNS" [texto integral não disponível], anunciado ontem, subscrito por múltiplas personalidades da área socialista - entre os seus subscritores estão CC, Ana Jorge, etc. - é um documento oportuno e fundamental na discussão da política social de um País mergulhado numa profunda crise, como está Portugal e que, no campo das definições dos grandes princípios políticos, se encontra ameaçado por um aventureira deriva neoliberal, protagonizada pelo PSD, cujas consequências na sociedade são para já imprevisíveis, não estando afastado o cenário de serem dramáticas.

A oportunidade deste documento é imensa.
Tem, complementarmente, o mérito de revelar uma linha divisória política [de fractura] entre o PS e o PSD na concepçção do Estado Social, quando convergências no campo económico e financeiro [os PEC's] a tinham esbatido...

É um documento prenhe de conteúdo estratégico.
Precede a campanha eleitoral presidencial, introduzindo-o, a contra-gosto do Centro-Direita [base de apoio de Cavaco Silva], na centralidade da agenda política.

Finalmente o aboquejar. O notório protagonismo de Adalberto Campos Fernandes[porta voz do manifesto] poderá ser um indicador de que - ao contrário do tem sido sugerido - o ex-presidente do CA do HH Sta Maria não estará em discreta deslocalização para o sector privado, podendo, isso sim, estar a conquistar espaço político e credibilidade partidária para altos voos na área pública...!

9:33 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

António Arnaut acusa líder do PSD de estar ao serviço dos interesses privados na saúde

O doutor Passos Coelho] é um instrumento dos interesses que estão por trás dele. Há grandes interesses envolvidos no sector da Saúde, que representa um terço do Orçamento do Estado, mais de nove mil milhões de euros por parte do Estado, é um sector apetecível para os negócios. Simplesmente a saúde não é um negócio”, acusou o ex-ministro, em declarações à agência Lusa. link

JP 24.08.10

O PPC faz e diz tudo o que o Angelo Correia lhe aconselha e todos nós conhecemos este senhor de ginjeira.

12:33 da tarde  

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